Entrevista com criadores da cadeira Mirra

Aberto em 1992 pelos berlinenses Carola Zwick, Roland Zwick, Burkhard Schmitz, Claudia Plikat e Nicolai Neubert (que já não faz parte do grupo), o escritório de design Studio 7.5 é criador da cadeira Mirra, um dos destaques da norte-americana Herman Miller para móveis para escritórios. A estética, ergonomia e o excelente conforto propiciado pela peça, que se molda ao corpo do usuário, já renderam comparações com a elogiada cadeira Aeron (1994), de Don Chadwick e Bill Stumpl. Em sua homepage,os alemães expõem sua filosofia e metodologia de trabalho, baseadas no desenvolvimento de protótipos e modelos. Desenhos no papel ou no computador apenas registram aquilo que foi criado em três dimensões. “O papel é paciente enquanto que a realidade não tem piedade”, justificam. Diante da complexa tarefa de otimizar forma e função, os designers se dizem facilmente tentados a “sacrificar um em detrimento do outro”, o que evitam fazer, entretanto. “Sempre tentamos abraçar a complexidade de um produto e desenvolver sua integração cultural porque acreditamos que o design seja a ponte entre tecnologia e cultura”, revelam.

VOCÊS DISPENSAM O PAPEL E O COMPUTADOR NA HORA DE CONCEBER AS PEÇAS E TRABALHAM SEMPRE EM TRÊS DIMENSÕES. COMO FAZEM E TESTAM OS MODELOS? QUE MATERIAIS USAM?

STUDIO 7.5 – Todo modelo é uma pergunta. Assim, sempre adotamos o material que melhor responda a essa pergunta. Pode ser papel, papel cartão, aço, polipropileno… Nossa rotina de trabalho inclui fazer testes práticos para verificar a proporção de um objeto ou testar seu conforto, principalmente quando se trata de uma cadeira. Aliás, nós mesmos testamos nossas criações, pelo menos na parte inicial de desenvolvimento.

ASSIM COMO A CADEIRA AERON, A MIRRA JÁ É CONSIDERADA PONTO DE REFERÊNCIA EM ESTÉTICA, CONFORTO E ERGONOMIA, SENDO CONHECIDA POR SE MOLDAR AO CORPO DO USUÁRIO. O QUE TINHAM EM MENTE AO CONCEBÊ-LA? POR QUE O NOME MIRRA?

STUDIO 7.5 – O nome dá a sugestão fonética de que a cadeira e sua cinética espelham o corpo humano e seus movimentos. Desde o princípio, queríamos desenhar uma cadeira tão confortável quanto um tênis. Quando o usuário se senta nela, já tem 80% de conforto garantido, mesmo que não faça nenhum ajuste. Os outros 20% de conforto provêm dos mecanismos para ajustes finos. Isso não mudou durante o processo, exceto a aparência da cadeira, que sofreu algumas alterações. A Herman Miller apoiou todas as nossas decisões neste projeto.

O QUE FAZ COM QUE A PEÇA SE AJUSTE DE IMEDIATO A DIFERENTES CORPOS SEM A NECESSIDADE DE REGULAGEM?

STUDIO 7.5 – O encosto e o assento da cadeira são construções diferentes de uma membrana. Ambos se adaptam muito bem a diferentes formas e posições do corpo humano. Seu exoesqueleto estrutural em forma de “Y” é um excelente suporte para o corpo humano, se ajusta a qualquer postura e dá liberdade aos movimentos, como o de torção, por exemplo.

EM SUA HOMEPAGE, VOCÊS AFIRMAM TRATAR COM O MESMO NÍVEL DE CUIDADO A FORMA E A FUNÇÃO DOS OBJETOS QUE DESENHAM. ISSO É REALMENTE POSSÍVEL?

STUDIO 7.5 – Sim. É trabalho do designer privilegiar ambos. Sacrificar um em detrimento de outro seria o mesmo que trapacear ou ganhar uma corrida sem ficar com o prêmio. Por isso, sempre privilegiamos forma e função simultaneamente: nunca devemos nos esquecer que tanto a aparência quanto a sensação provocada por um produto são igualmente importantes para o usuário.

Por Valentina N. Figuerola