Arquitetos e fornecedores comentam tendências e novidades para espaços corporativos

Convidados para um bate papo, arquitetos e fornecedores de móveis e cadeiras para escritórios comentam tendências e novidades para espaços corporativos.

 

COMO AS CADEIRAS E O MOBILIÁRIO PARA ESCRITÓRIOS VÊM EVOLUINDO AO LONGO DOS ANOS?

 

SILVIO HEIBUT – Notamos uma preocupação crescente por parte dos clientes em reduzir o custo do mobiliário. Hoje, em casos de expansões, por exemplo, o cliente não está mais preocupado em manter o bom fornecedor, mas em baixar o custo. Além disso, há uma série de novas empresas que apresentam soluções boas e bonitas, que resolvem o problema do cliente.

LUCIANA PEREZ – A cada dia surge um novo fornecedor, exigindo que os arquitetos estejam mais atentos à qualidade dos produtos. É o arquiteto que geralmente sabe filtrar e distinguir um produto bom de outro ruim.

DOV ARMONI – Um diferencial que pode ser exigido é a emissão de certificações e a realização de ensaios. Ao distinguir os produtos pela qualidade, sobram poucos fornecedores.

AUGUSTO FERREIRA – Isso é verdade, mas uma vez eu fiz um projeto para o Sesc e a compra tinha de ser feita por licitação pública. No memorial, solicitei que o fornecedor de cadeiras tivesse uma certificação do IPT, que é uma garantia de qualidade do produto. Imaginei que todo mundo tivesse um certificado desses. Mas ninguém tem. O problema é cultural. O usuário não cobra esse tipo de atestado de qualidade, e o fornecedor não oferece. Vejo aí uma falha do usuário, do arquiteto e do fornecedor.

CLÁUDIO MUZZI – A empresa pode não ter uma certificação do IPT, mas pode ter outras certificações. A nossa fábrica, por exemplo, mantém um laboratório interno próprio para atestar a qualidade dos nossos produtos.

ARMONI – A certificação é importante, tanto que estamos sempre procurando certificar os produtos pela legislação que temos aqui, conforme a ABNT. A concorrência acirrada tem também um lado positivo: força as empresas a se aprimorar e a adquirir equipamentos novos. O caminho do mais barato não precisa ser, necessariamente, o do pior produto. Pode ser o caminho da industrialização, por exemplo.

MUZZI – A busca por baixo custo pode estimular também o desenvolvimento de materiais novos. Poliamida, polipropileno, telas, policerâmicos, polímeros de alta resistência são alguns materiais novos que já estão presentes nos escritórios, sobretudo em cadeiras.

 

HÁ ALGUMA AÇÃO EFETIVA DA INDÚSTRIA EM PRIVILEGIAR SOLUÇÕES E MATERIAIS ECOLOGICAMENTE CORRETOS?

 

ARMONI – Em mobiliário, uma mudança grande foi a substituição da madeira maciça para a confecção dos móveis por outros materiais menos agressivos ao meio ambiente.

SOLANGE GALVES – Nota-se uma forte tendência de usar muito mais o BP (melamínico de baixa pressão) madeirado do que a madeira natural porque é um produto que confere boa textura e toque, algo que não tínhamos antigamente. Quando se falava em laminado melamínico imitando madeira, geralmente era um desastre. Agora há cores e acabamentos que são realmente bonitos, aliado à facilidade de reposição. Para completar, trata-se de um material mais resistente, que além de ser ecológico, é mais barato que a madeira.

 

QUE CARACTERÍSTICAS SÃO IMPRESCINDÍVEIS A UM MOBILIÁRIO CORPORATIVO? QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS REQUISITOS DE ESPECIFICAÇÃO?

 

MARCELO AGOSTO – Nossa visão é buscar sempre materiais que ofereçam boa ergonomia. Observamos também o acesso ao cabeamento das mesas, fundamental em nossos projetos. Ao mesmo tempo, como o landscape dos escritórios está cada vez mais aberto, é preciso considerar a questão acústica. É claro que procuramos solucionar isso com o forro, mas se o mobiliário oferecer um anteparo acústico, é melhor. Outro quesito importante é a flexibilidade, já que os layouts expandem e diminuem numa velocidade absurda e os móveis precisam acompanhar isso.

MUZZI – As cadeiras avançaram muito nessa questão de ergonomia. Já o mobiliário parece estar a quilômetros de distância.

GALVES – Mas o mobiliário tem um papel ergonômico muito importante. Temos as bordas, o formato dos tampos, tudo isso está relacionado com o conforto do usuário. Hoje, quando falamos de tampo com borda reta, que é uma tendência no mercado, ela não é de 90 graus por causa da norma. Tem de ter um raio mínimo de curvatura. Enfim, a especificação e fabricação de mobiliário têm de ser acompanhados da mesma preocupação do que as cadeiras.

PEREZ – O ideal seria que os móveis permitissem que as pessoas pudessem trabalhar em pé e sentadas. Há, inclusive, uma norma européia que diz que a pessoa tem de ter a opção de trabalhar em pé ou sentada.

GALVES – A mesa com regulagem seria importante também para as empresas que empregam portadores de deficiência. O que as empresas têm feito é comprar mesas mais altas, que são instaladas em lugar separado das estações de trabalho. Vemos aí um problema sério de segregação.

HEILBUT – Um ponto que deveríamos levar em consideração na compra do mobiliário é a montagem e desmontagem. O certo seria, sobretudo em grandes instalações, montar e desmontar o móvel três vezes para ver como ele fica depois, se todas as peças encaixam direito.

GALVES – Nesse sentido, o que temos feito é pedir para que o cliente avalie o tempo de montagem e desmontagem do mobiliário. Porque essa é uma forma de mostrarmos a flexibilidade que o móvel dispõe.

FERREIRA – Claro, porque você só consegue montar e desmontar rápido um móvel se as peças se encaixarem perfeitamente. Velocidade de instalação é fundamental, e nos grandes escritórios, os instaladores têm apenas um final de semana para montar tudo.

GALVES – Para nós uma tendência é sairmos das estações de trabalho em L e irmos para grandes plataformas. É uma maneira de oferecer uma boa mesa, capaz de suportar as demandas atuais de cabeamento, por exemplo, a um custo acessível.

HEILBUT – Não creio que a estação em L vá sumir. Até porque essa substituição não oferece tanto ganho de aproveitamento de espaço. Eu acho que o “mesão” é mais indicado em situações em que a pessoa não precise ficar muito tempo no escritório.

AGOSTO – Ainda mais se considerarmos que o ser humano é territorialista. O funcionário vê aquele L como o seu mundo. Não quer abrir mão disso.

FERREIRA – Mas se percebe que a maneira de trabalhar mudou. Antes havia essa situação em que cada um tinha seu espaço. Hoje, a pessoa carrega seu laptop por todos os lados e trabalha até na lanchonete. A quantidade de papel diminuiu e as pessoas trabalham cada vez mais com internet. Com isso, a quantidade de armários também diminuiu.

AGOSTO – Considerando a necessidade de prover conforto ao usuário, é cada vez mais importante considerarmos o escritório como um sistema complexo. É preciso trabalhar conjuntamente a iluminação, o ar-condicionado etc.

 

QUE TIPO DE SUPORTE OS ARQUITETOS ESPERAM DO FORNECEDOR DE MOBILIÁRIO?

 

HEILBUT – É complicado quando o pessoal que atende aos escritórios de arquitetura não tem informação técnica suficiente e não sabe o que está vendendo. Para piorar, tem fornecedor que não sabe preencher uma planilha de orçamento correta.

GALVES – Do nosso lado, um complicador é quando vamos conversar com o arquiteto e, até porque o cliente não sabe ainda exatamente o que quer, ele nos pede para cotar inúmeras opções. Isso acaba confundindo o cliente.

HEILBUT – Ter um showroom para podermos levar o nosso cliente também é importante.

 

VOCÊS SENTEM FALTA DE ALGUMA SOLUÇÃO PARA ESCRITÓRIOS?

 

FERREIRA – Meu sonho é que todo usuário pudesse definir e alterar as condições para seu conforto, de acordo com seu tamanho, peso, hábito etc. Ter iluminação e ar-condicionado individualizados por estação de trabalho, bem como todos os controles e regulagens à mão.

AGOSTO – Uma coisa que sentimos dificuldade para encontrar são mesas de controle. As opções que temos no mercado brasileiro, infelizmente, ainda são muito estanques, não atendem a essas necessidades especiais. Há, por fim, uma defasagem muito grande em relação ao design.

PEREZ – Para trazer design mais aprimorado, muitos fornecedores, como é o nosso caso, têm feito parcerias com empresas européias.

ARMONI – O design está muito associado à tecnologia de que a indústria dispõe. Por isso, nós, fabricantes, temos procurado nos aprimorar em tecnologia e maquinário para poder prover melhores acabamentos e design.

FERREIRA – Sinto falta de mobiliário para diretoria. Há poucas opções e a maior parte dos fabricantes reproduzem um design dos anos 50. Isso nos obriga, em casos de mesas de reunião e de diretoria, recorrer à marcenaria.

HEILBUT – Também com os armários temos dificuldades porque às vezes ficamos amarrados às dimensões do fabricante, com poucas alternativas. Já aconteceu, por exemplo, de termos uma parede de 1,5 m e só armário de 1,20 m.